
O movimento slow teve sua origem na Itália, na década de 80, quando começou o Slow Food, em contraposição ao Fast Food. O Slow Food valoriza o ato de comer, pensando no alimento desde a sua produção; e na refeição com tempo, na companhia de pessoas significativas e com consciência no ato de se alimentar. Desde então, os valores começaram a ser incorporados em outros setores da vida e da sociedade e surgiram outras vertentes.
Em 2019, vivi 2 experiências que mudaram a minha vida em muitos aspectos e comecei a enxergá-la de um jeito bem diferente. A primeira, me ensinou a valorizar cada segundo do meu tempo nessa terra, com as pessoas que eu amo. E a segunda, me fez analisar hábitos diários e de consumo. De lá para cá, tenho mergulhado em estudos e reflexões sobre um estilo de vida conhecido como Slow Living, que propõe uma mudança cultural para a desaceleração da vida cotidiana.
É verdade que nesses últimos meses, temos vivido uma vida desacelerada, pelo isolamento social. Mas não se trata disso. Não é sobre uma desaceleração circunstancial. É sobre o entendimento da necessidade de “colocar o pé no freio” da aceleração que tomou conta do mundo nos últimos anos. É a integração de diferentes áreas da vida, como educação, saúde, relacionamentos, família, trabalho e lazer, numa perspectiva multidimensional. É um equilíbrio entre os extremos e moderação aos excessos; é a valorização da simplicidade voluntária e uso responsável dos recursos materiais.
O slow living sugere uma vida e trabalho inspirados por valores simples e reais, que ficaram esquecidos pela velocidade, pelo piloto automático. Uma vida preenchida por significados, realizações e propósito. Um verdadeiro equilíbrio!
Esse estilo já está sendo vivenciado em todo o mundo, por uma incrível variedade de pessoas. Ambientalmente, socialmente, economicamente e culturalmente. Todos em busca dos mesmos propósitos de uma vida mais plena, justa e de um consumo mais consciente.
Na verdade, muitos de nós, já buscávamos por isso de alguma forma. Mas vez ou outra, nos deixávamos levar pelos hábitos, pelo convencionalismo e pela rotina, já tão enraizada com a ideia de que “podemos fazer tudo, ao mesmo tempo, com mais coisas, cada vez mais rápido e sempre melhor.” Uma grande armadilha que pode nos levar à uma vida corrida, estressante, superficial e sem propósito.
Eu vejo o Slow Living como um “grito da humanidade” contra os excessos que nós mesmos criamos. Ainda bem que todos os dias temos a oportunidade de refletir, analisar e desacelerar.
No livro de Carl Honoré, de 2004, In Praise of Slow, ele descreve o movimento como “Uma revolução cultural contra a noção de que mais rápido é sempre melhor (…) É sobre ter qualidade em detrimento da quantidade de tudo, desde o trabalho até a comida e a criação dos filhos.”
Viver isso na prática, requer autoconhecimento e consciência do tempo. Envolve muito mais do que levantar a bandeira de um movimento bonito, envolve estar mais presente na vida com plenitude e atenção, reduzir o desperdício, viver com menos, comer mais saudável, ler mais, ser mais solidário, “destralhar” a casa e a vida, descomplicar!
Em resumo, é um estilo de vida completo, com o objetivo de desacelerar, gerar mais qualidade, equilíbrio, paz e sustentabilidade. Não se trata de radicalizar nada, mas de viver no seu ritmo e não no ritmo imposto pelo mundo e pelos padrões da sociedade.
Para mim, tudo isso faz muito sentido e será um assunto habitual por aqui. Uma pessoa muito querida me disse que 2020 seria “Um ano como nunca antes”… Ele nem tinha noção do quanto estava certo!